segunda-feira, 24 de abril de 2017

David Belle's Parkour (tradução) - Pt 11

Tradução livre da versão em inglês do livro Parkour, de David Belle
Tradutor desta parte: Victor Silva (Kratos)

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Como era essa filosofia que ele te ensinou?


Meu pai me guiou, me trouxe respostas para assuntos simples e situações com as quais todo mundo se depara na vida. Meu avô tinha me ensinado os aspectos práticos da vida - como manter uma casa, cuidar de mim mesmo, me expressar da forma adequada e etc. Meu pai me ensinou como me comportar, tanto comigo mesmo quanto com outras pessoas, como encarar o mundo, os ataques e armadilhas que me aguardavam. Ele tentou me fazer entender como as coisas funcionam na vida, e todas as coisas com as quais eu me depararia: trabalho, amigos, mulheres, dinheiro... Ele me dizia: "Não dependa dele desesperadamente. Se estiver lá, bom. Mas se não estiver, não se atormente para entender por que você não é rico. Permaneça fiel aos seus valores fundamentais." Ele me encorajava a ter pensamentos corretos. Eu só tinha catorze, quinze anos, mas graças ao meu pai eu era bem maduro para a minha idade. De certa forma, ele tinha avaliado suas realizações e era como se ele tivesse entendido coisas que ele poderia ter evitado enquanto jovem ou adulto, e ele estava passando isso para mim. Eu sabia que ele estava me dando tudo o que podia para que eu não cometesse os mesmos erros. Ele me disse: "Você vai descobrir que na vida é difícil fazer malabarismos com  cinco bolas. Mas ao invés de se aborrecer com isso, ou reclamar, pergunte a si mesmo se fazê-lo é necessário ou útil." Ele me ensinou tanto que, nos dias de hoje, eu sempre questiono o objetivo de alguma coisa ou de uma pessoa nova entrando na minha vida. Eu entendi que seres humanos em geral são maus. Maus porque eles sempre acabam ferindo alguém ou tentam tirar vantagem em cima dos outros. Existem poucas pessoas verdadeiras, boas e honestas na Terra. E é isso que deveriam nos ensinar na escola: estar ciente de quem é verdadeiro, tendo a capacidade de diferenciar as pessoas que estão tentando abusar de você das pessoas honestas, reconhecer uma declaração real, escutar as pessoas e conseguir ver através delas. Sem meu pai, eu não conseguiria fazer isso. Ele sempre me contava exemplos que mostravam que o homem e a vida são entrelaçados: não há preto ou branco. Ele nunca julgava alguém pelo comportamento, bom ou ruim. Ao invés disso ele me disse para ver a intenção, se era uma intenção boa ou uma ruim. For exemplo: um cara que trai a esposa pode fazer isso por boas razões, para salvar seu casamento, e inversamente um outro esposo vai se manter fiel mas transformar a vida da sua esposa em um inferno. O que mais importava para o meu pai era respeitar os outros e ser honesto.

Como essas trocas de experiências com seu pai aconteciam?


Eu tinha que ir procurá-lo, senão nada acontecia. Por exemplo, se eu passasse a tarde no quarto do meu primo e meu pai estivesse na sala de estar, no andar de baixo, ele não vinha me ver. Seu lema era: "Se meu filho quiser saber coisas sobre mim, sobre minha vida, ele terá que vir e me perguntá-las." Meu pai dormia em uma tenda no jardim, até mesmo no inverno. Eu olhava para ele pela janela do meu quarto e dizia a mim mesmo: "Eu tenho que ir lá conversar com meu pai. Eu estou aqui há dois dias, e eu preciso fazê-lo antes que seja tarde e eu me arrependa." Eu tinha um impulso, uma necessidade vital. Eu queria conversar com ele sobre tudo pelo que ele tinha passado. E quando eu estava com ele, ele podia falar comigo sobre qualquer coisa. Ele podia me ensinar a cozinhar, me ensinar sobre carros, sobre seres humanos. Ele me dizia: "Você vai conhecer mulheres desse ou daquele jeito e serão experiências diferentes. Mas tem que te agregar em algo; você tem que aprender a conhecer as mulheres e, portanto, conhecer a si mesmo." Ele queria que eu evitasse os erros que ele cometeu e não queria que eu perdesse meu tempo em um relacionamento que não era pra mim. Caras que pensam que eles têm toda a vida pela frente e que vão ter o máximo de mulheres que eles conseguirem só podem acabar ferindo as garotas. Qual o ponto em partir um coração? Não há energia positiva nisso.

Depois de tudo o que meu pai me ensinou sobre as mulheres, eu não podia me gabar na frente dele. Se eu trouxesse uma garota para casa, eu podia sentir a pergunta essencial nos olhos dele: "Ok, filho, você trouxe uma garota bonita. Você pode até mesmo trazer dez. Mas você pode me dizer se ela é a garota certa? Você a está trazendo aqui porque você a ama ou porque você está tentando se gabar em frente aos outros, em frente aos seus camaradas?"

Hoje, eu simplesmente não posso jogar um jogo ou ser falso, pois ele me ensinava tão frequentemente a ser autêntico e a me sentir mal ao mentir, trair ou fazer coisas pelas razões erradas. Meu pai tinha conhecido muitas mulheres mas ele confessava que não era exatamente orgulhoso disso. Ele nunca me disse "Ei, é ótimo ter muitas garotas! Vá e se divirta, David!" Na verdade, era mais o oposto: "Você pode sair com cem mulheres mas, no fim, se você não conseguir se lembrar de todas e cada uma delas, qual o sentido? Se você não puder se lembrar de nomes, rostos, momentos vividos com elas, então você perdeu algo. Você poderia ter evitado sair com algumas delas e feri-las." Para ele, o que realmente importava era encontrar a pessoa certa, com a qual eu dividiria minha vida. Essas lições de meu pai me impediram de cometer muitos erros estúpidos, de começar algo que eu não poderia terminar. Elas me ajudaram a desenvolver uma visão afiada das pessoas e a não ser focado apenas em aparências.